Entrevista com Amália *
*Nome fictício da agente penitenciária
Quais fatos inusitados você já presenciou na revista?
Semana passada encontrei uma visitante que colocou um celular pequeno em cada chinela. Contou para mim que ensinaram ela a raspar a sandália, deixar um buraco na sola e depois colar. Ela colocou um em cada pé. Eram dois antigos, que servem basicamente só para ligação. Na hora que ela foi entrando, vimos que andava nas pontas dos pés. Pedimos que voltasse, colocamos o detector de metais e apitou.
O que ainda te surpreende na rotina de profissão?
Estou há quatro anos como agente, comecei com 20 anos, sendo apoiada por meu pai e meu tio que também trabalham nisso. Ainda me surpreende como muitas visitantes arriscam a própria saúde para inserir algum aparelho telefônico no corpo. Percebemos que esse tipo de tentativa diminuiu, mas nenhuma ligação de parentesco ou amizade com os presos, que levam coisas para eles por mixarias.
Você já recebeu ameaça, pedidos ou tentativa de suborno?
Já teve gente que me ameaçou ordenando que eu dissesse que não vi o celular e deixasse passar. Uma outra me implorou para liberar dizendo que o esposo estava devendo lá dentro sendo ameaçado todos os dias e esse celular que ela levava ia para pagar uma dívida dele e dar sossego. Tentativa de suborno eu nunca nem presenciei. O que vejo muito é mulher que já chega no presídio com tanto medo por estar fazendo algo errado, que acaba se entregando só pelo jeito de olhar.
FONTE: Diário do Nordeste
Link: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/tentativas-de-burlar-a-lei-ainda-sao-recorrentes-1.1707912